Porque dissertar despropositadamente é preciso.

janeiro 30, 2011

Você é corruptível?

O cenário é mutável, o personagem assume diferentes estereótipos, mas a declaração, geralmente encenada com um adequado tom de revolta, é a mesma:

- Políticos são todos iguais, safados, corruptos. Um bando de vagabundos!


De mãos lavadas, abstém-se, o inferno são os outros.


Ignorante ou simplesmente distraído, parece esquecer que os políticos nada mais são do que um reflexo dos cidadãos que os elegeram. Não por acaso, vivemos num sistema denominado democracia representativa, aquele que lá está tem o papel de representar e ser o porta-voz daquele que o escolheu. Nessa condição, acaba por personificar também as mazelas do povo brasileiro, em especial o principal viabilizador da corrupção:


O jeitinho brasileiro.


Orgulho para alguns, vergonha para tantos outros, motivo de ódio no exterior, é essa mentalidade de buscar tirar proveito de tudo e de todos, sem medir consequências, que está no cerne do problema.


Na fila do banco, o sujeito encontra um conhecido, aproxima-se e tcharan, a malandragem do brasileiro já entrou em ação e fez outras vítimas.


Na rua, o sujeito volta e encontra um guarda aplicando uma multa por estacionar em local proibido. Malandro que é, livra-se da infração por vinte reais, pagos espontaneamente pela qualidade do serviço prestado pelo guarda.


No trem, o sujeito, jovem, percebe a aproximação de um idoso e, para evitar ceder o lugar, finge estar dormindo.


Principalmente por essa mentalidade, exaltada por muitos, medidas que são comuns na Europa nunca funcionariam aqui. Exemplos: Na Alemanha, o agricultor coloca os repolhos à beira da estrada, com uma placa indicando o preço e uma caixa para depositar o dinheiro, o sujeito escolhe o que quer, paga por isso, faz o próprio troco e vai embora, sem que ninguém precise checar a transação, enquanto o agricultor trata de sua plantação. Ainda na Alemanha, o sujeito tem três carros, mas um deles está estragado e não sai às ruas há um ano, ele explica isso ao Governo, que não cobra o imposto. Em países sérios, o cidadão não busca enganar a todo momento, nem o Governo dá motivos para que haja esse desejo. Uma coisa leva a outra, criando esse sistema que chamamos de ‘primeiro mundo’, onde a honestidade prevalece.


Há uma diferença entre livrar-se de uma multa de trânsito e ser protagonista de um caixa dois, mas a mentalidade é a mesma, o que muda é a escala do problema. De qualquer forma, cada vez que alguém passa outro alguém para trás por meios “brasileiros” e surge um terceiro alguém para exaltar o feito, nosso destino vergonhoso é novamente traçado.


Antes de culpar a política, atribuindo aos que dela vivem a maior responsabilidade pelas dificuldades enfrentadas pela nação tupiniquim, vale a pena refletir se o principal problema do Brasil não é, de fato, o brasileiro.

3 comentários:

Thomas N Ferreira disse...

Fato! É muito mais fácil lavar as mãos e atribuir a culpa a terceiros do que assumir a sua parcela e mudar de atitude. Não conhecia esses costumes estrangeiros, pasmei. Nunca daria certo mesmo, aqui.

É preciso tirar a venda dos olhos.

mvsmotta disse...

Para 99% das pessoas vale a seguinte regra: existem os corruptos e aqueles que ainda não tiveram oportunidade de se corromper.

Um abraço!

Marcus

Marvin disse...

*aplausos*

Texto perfeito.

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